Sobras alimentares, desperdício alimentar e uma receita de arroz branco.
Episódio #3
A maravilha das sobras, desperdício alimentar e uma receita de arroz branco que fica sempre soltinho.
Neste episódio falo sobre como encaro as sobras alimentares na minha cozinha e o que faço para reduzir o desperdício alimentar. No final partilho convosco a estrutura de um arroz branco que fica sempre soltinho.
Porque as melhores conversas acontecem à mesa, vamos sentar-nos a conversar? Estão convidados e se quiserem tragam um amigo também.
Show notes
Olá, bem vindos ao terceiro episódio do podcast Marinar. Hoje queria falar convosco sobre o drama ou a maravilha das sobras e como podem ser um aliado no dia-a-dia bem como uma forma consciente de redução do desperdício alimentar. No final, quero partilhar convosco receita de um arroz branco que fica sempre soltinho, mesmo depois de aquecido.
Sempre que falo com alguém sobre fazer um jantar de sobras, a maior parte das vezes recebo um olhar de lado como se sobras não fossem comida - normalmente das mesmas pessoas que me dizem que não comem sopa aquecida.
Conheço muitas famílias que conseguem orquestrar uma vez por semana um jantar de sobras para evitar o desperdício alimentar. E depois há aqueles que, como eu, adoram ter sobras no frigorífico para engendrar uma nova refeição - combinando os vários elementos que temos para serem comidos. Digo-vos mais, eu cozinho sempre a mais, de forma a ter sobras. Mas não é um restinho de qualquer coisa: é duplicar e triplicar doses para poder adaptar durante a semana. E há receitas incrivelmente versáteis que se adaptam a serem transformadas em tantas outras coisas! Um frango assado no forno pode-se tornar num arroz de carne, numa salada de frango, em rissois e croquetes, em empadão ou lasanha de frango. E em tantas outras coisas.
Comer sobras não significa necessariamente aquecer os bifes grelhados, secos, para comer outra vez ao jantar. Podem ser cortados às tirinhas e salteados na frigideira com uma boa dose de vegetais, ovo, arroz e molho picante para um almoço ou jantar delicioso. Uma mesma base de sopa da semana pode ser aquecida ora com feijão verde, ora com espinafres e cenoura ou qualquer outra coisa que tenham no frigorífico e que precisa de ser comida.
Tanto da vida que fazemos na cozinha parte por uma mistura de tempo disponível que temos juntamente com os ingredientes que temos à mão. E se vocês forem como eu, o facto de já ter qualquer coisa adiantado - seja um arroz solto ou um caril de grão, permite-me ter uma base por onde começar e ter um fim de dia muito menos stressante e usufruir mais da vida. Claro que o planeamento de refeições é fundamental mas deixamos esse assunto para outro episódio.
Ideias para aproveitar sobras
Pão - torrar para fazer croutons, pudim de pão;
Sumos de fruta - congelar em forminhas para fazer gelados de fruta;
Puré de batata - uso para fazer bolinhos de peixe;
Batatas assadas frias ficam óptimas cortadas em pedacinhos e misturadas em quiches;
Hortícolas cozinhados podem ser usados para fazer hambúrgueres ou croquetes de vegetais ou até esparregados;
Cereais cozidos como arroz, quinoa, cevada, milho painço, etc. podem ser usados para saltear com um molho picante ou para envolver na massa do pão;
Fruta madura - purés de fruta, compota, água com sabores, sobremesas como galettes;
Leguminosas cozidas - Hummus, patê de lentilhas e azeitona, hambúrgueres e croquetes de vegetais;
Carne grelhada ou assada - croquetes, rissóis.
As sobras ainda estão boas?
A maior parte das pessoas tem receio de comer sobras por não saber se estão boas. Mas tenho algumas dicas para vocês:
Depois de confeccionados, os alimentos podem ser deixados à temperatura ambiente até um limite máximo de duas horas antes de colocar no frigorífico ou congelador. Se os alimentos estiverem bem confeccionados conservam-se bem e com qualidade até 3 dias no frigorífico. Dependendo das receitas e da qualidade dos recipientes até 5 dias. Se virem que não vão consumir esses alimentos nos próximos 3 dias, coloquem directamente no congelador para não se estragar.
Não convém aquecer as sobras mais do que uma vez, por isso, ao aquecer, retirem do frigorífico para a panela ou frigideira apenas aquilo que vão precisar.
Ao aquecer os alimentos, devemos deixar ferver 3 minutos para garantir a segurança alimentar.
Mas quando é que cozinhei isto?
Uma dica para saberem sempre quando foi feita essa comida: em casa usamos recipientes de vidro - que nos deixam ver para dentro do recipiente e saber imediatamente o que lá está - e costumo escrever com uma caneta de tinta permanente na lateral a data de confecção. Sai com a lavagem na máquina e é uma óptima ajuda a prevenir deixar estragar os alimentos.
Desperdício alimentar
E já que estamos a falar de sobras, vou aproveitar para falar um pouco sobre desperdício alimentar e de formas como podemos reduzir o nosso consumo e assim poupar recursos e dinheiro. O relatório sobre desperdício alimentar do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais na América, em 2017, veio expor que as sobras de comida são dos alimentos mais desperdiçados logo a seguir aos vegetais e frutas. Eu acredito no poder de cada um de nós para mudar o mundo - uma acção individual que se torna colectiva - acredito que se todos fizermos um bocadinho, na medida do que nos for possível, é possível mudar o rumo actual de desperdício. Seja planeando as refeições e fazendo compras com lista, congelando as doses que não vamos consumir imediatamente, fazendo caldos, compotas, fermentados ou pickles, aproveitando cascas para dar aromas a vinagres e águas, há muitas maneiras de aproveitarmos os alimentos que temos.
Aproveitar para fazer caldo
Acima de tudo considero importante não entrarmos em modo de perfeccionismo. Aprender devagar como podemos melhorar os nossos processos pode ser divertido e sem o peso do tudo ou nada. Em nossa casa somos muito conscientes do desperdício e conseguimos fazer compostagem, o que reduziu drasticamente as nossas idas ao contentor. Mas porque precisamos da compostagem para alimentar as nossas plantas, não é desculpa para desperdiçar. Tenho sempre um saco no congelador onde vão parar todas as sobras que podem ser usadas para fazer caldo: ossos de um frango assado, talos de couve e nabiças, de salsa e a parte mais fibrosa do alho francês, talos fibrosos de vegetais como espargos, cascas de cenouras e sobras de cebola. Todos esses pedaços de coisas aleatórias que parecem que não servem para nada e que são aparentemente lixo, transformam-se em caldos deliciosos que servem como base de sopas, estufados, molhos ou para serem usados em substituição ou complemento a água em arroz caldoso ou outros cereais. E fazê-los é muito simples: despejo o saco que tenho no congelador para um tacho, cubro com água filtrada (simplesmente porque a água na nossa região é muito ferrosa) e adiciono tomilho ou louro, alguns grãos de pimenta e deixo a cozinhar por duas horas ou mais, em lume brando. Depois coa-se e congelo em garrafas que aproveito da polpa de tomate ou uso forminhas de silicone para ter sempre uns cubinhos congelados de caldo para adicionar às receitas.
Uma receita de arroz branco, soltinho, que sai sempre bem.
E porque uma das coisas que tenho com frequência no frigorífico é arroz branco soltinho, sempre pronto a utilizar num arroz salteado ou para aquecer e acompanhar com o que quer que seja o almoço ou jantar nesse dia, queria deixar-vos a minha receita de arroz branco soltinho que fica sempre bem.
O método que utilizo é um método de absorção. Significa que a água que vamos pôr no arroz é totalmente absorvida no processo de cozedura. Aqui adicionar mais água significa que o arroz vai ficar em papa e se a quantidade de água for insuficiente o arroz não terá o líquido necessário para cozer. A proporção que uso é de 1 chávena de arroz basmati para 1 chávena e 1/4 de água a ferver. Se usarem arroz agulha, a proporção de água será mais semelhante a 1 chávena de arroz para 1 chávena e 1/2 de água. Dependendo da marca do arroz e até do lote, estas quantidades podem variar um bocadinho mas noto que as proporções serão semelhantes ao que vos indiquei.
Então começamos por ferver a água que vamos usar no arroz e escolhemos uma panela que acomode confortavelmente as doses que vamos fazer. Eu faço sempre duas chávenas de cada vez. Começo com lume médio e frito o arroz numa colher de sopa de azeite ou melhor ainda de manteiga. Nesta fase, se quiserem, podem adicionar um dente de alho esmagado grosseiramente. Se preferirem podem lavar o arroz mas confesso que nem sempre o faço. Deixam fritar o arroz um bocadinho e quando estiver a começar a alourar, adicionam a água toda de uma vez. Não se esqueçam das proporções de água para o arroz que estiverem a usar. Temperam com sal e uma folha de louro se tiverem e quiserem. Tapam com um testo que sele não deixe escapar o vapor e deixem cozer 12 minutos em lume brando. No final, com um garfo, soltem o arroz e deixem tapado com a tampa mais 5 minutos para o arroz absorver o resto do vapor.
Deixem-no arrefecer apenas alguns minutos antes de transferir para um recipiente fechado e guardem no frigorífico o quanto antes já que deixá-lo à temperatura ambiente pode reduzir significativamente o tempo que o arroz se conserva no frigorífico. E assim têm arroz cozinhado e disponível durante os próximos 4 dias. E saibam que é possível congelar arroz cozinhado
E pronto, por hoje é tudo. Espero que gostem e qualquer dúvida que tenham podem sempre contactar-me pelo instagram em marina_a_marinar ou por e-mail em marinaamarinar@gmail.com.
Bibliografia:
https://www.dgs.pt/em-destaque/alimentacao-inteligente-coma-melhor-poupe-mais1.aspx
https://www.nrdc.org/sites/default/files/food-matters-ib.pdf