15 ideias para poupar dinheiro na compra e confecção de comida

Episódio #10
15 ideias para poupar dinheiro na compra e confecção de comida

Neste episódio partilho convosco as minhas 15 ideias e dicas para poupar dinheiro na compra e confecção de comida.

Desde a importância de definir um orçamento mensal para a alimentação e respeitá-lo, como planear refeições, cozinhar e planear em função da cozinha que temos, duplicar doses para ter sempre comida no congelador (quando mais precisamos dela), como aproveitar os artigos em desconto, como poupar nas compras de carne, o que fazer com os legumes e frutas excedentes da época, quais os alimentos que podemos fazer em casa, como reinventar as sobras, plantar a nossa própria comida ou replantar vegetais em vasos, como usar e transformar alimentos do dia-a-dia com especiarias, quais as melhores ocasiões para congelar comida e muitas mais dicas.

Porque as melhores conversas acontecem à mesa, vamos sentar-nos a conversar? Estão convidados e se quiserem tragam um amigo também.

Show notes

A figura de uma cachopa que acha que comprar legumes no mercado é mais entusiasmante do que comprar roupa numa loja.

A figura de uma cachopa que acha que comprar legumes no mercado é mais entusiasmante do que comprar roupa numa loja.


Espero que se encontrem bem no meio da pandemia, no meio da confusão que estão as nossas casas. No meio do trabalhar a partir de casa, com os filhos pendurados ao pescoço. 

Se vocês se sentem sozinhos neste momento, deixem-me lembrar-vos que não são os únicos. Não é à toa que os episódios do podcast Marinar têm saído às pinguinhas. Todos nós estamos a tentar fazer o nosso melhor e é tudo o que podemos fazer neste momento. 

Hoje, achei que seria relevante trazer-vos 15 ideias para pouparem dinheiro na confecção e na compra de alimentos. Sei que muitos de nós estão com um orçamento mensal um pouco apertado. Por isso decidi reunir as minhas melhores dicas e as as minhas melhores ideias para que possamos atravessar esta fase com um pouco mais de graciosidade e conforto.

Espero que vos seja útil.

1. Definir um orçamento mensal para alimentação e respeitá-lo.

A primeira coisa é mesmo começar por definir um orçamento mensal para a alimentação. Depende do número de pessoas que estão em casa, das idades e do quanto comem. Alimentar filhos adolescentes não é a mesma coisa que alimentar uma criança. Todas estas coisas pesam. 
Definir um orçamento mensal dá-vos também uma janela de gasto e que vocês podem, em algumas coisas, tornar quase que num jogo. Não precisa de ser uma coisa que aperte, pode ser simplesmente tentar todos os meses ver se conseguem fazer um pouco abaixo do que tinham estabelecido. E para isso, as dicas que vos trago hoje são precisamente nesse sentido. Para poupar dinheiro, é começar por definir quanto é que podemos gastar e ir tentando gastar um bocadinho menos, não perdendo a qualidade e quantidade que precisamos para estarmos bem e mantermos a nossa saúde, principalmente numa fase complicada como esta que atravessamos. Para podermos respeitar o nosso orçamento mensal, também significa alguma disciplina na cozinha. Quer isto dizer, que é difícil respeitarmos o nosso orçamento mensal se a nossa técnica para ir às compras é levar o carrinho, sem lista, e salve-se quem puder. Então se forem com fome, chegam ao final das compras e provavelmente esqueceram-se de metade das coisas que precisam, trazem o carrinho cheio de coisas que não precisam e no final lá se foi o vosso dinheirinho que tanto custou a ganhar. 

2. Planear refeições.

Eu sei que estou sempre a bater na mesma tecla, desculpem, mas é mesmo, mesmo importante! Principalmente quando estamos a olhar para questões como poupar dinheiro ou como poupar tempo e utilizar a vossa sanidade mental para coisas melhores do que todos os dias enfrentar a mesma questão do “porque é que estou na cozinha”, “tenho que fazer o jantar”, essas coisas que vocês já sabem.
A melhor maneira será mesmo então fazer o planeamento de refeições. Isto pode ser tão simples como vocês sentarem-se com um bloco de notas na mesa da cozinha, fazerem uma lista de todos os ingredientes que têm e pensarem em como é que os podem conjugar. E obviamente em refeições simples que não vos dêem dores de cabeça e que sejam fáceis de fazer. 
Já sabem que se precisarem de ajuda com isto, podem sempre adquirir o PDF “A arte de planear refeições”, na loja. Tenho também sessões de consultoria em que analisamos em conjunto a vossa situação e fazemos um plano à vossa medida.
Voltando ao planeamento de refeições e ir às compras só para aquilo que vocês precisam. Ou seja, não estar todas as semanas a comprar sempre tudo. Podem ir comprando quando há promoções e ir  guardando ou congelando. Planear as refeições e as compras, primeiro reduz o tempo que estão nas compras - que nesta altura é fundamental - mas também vos dá uma oportunidade para se organizarem melhor. Portanto, antes de fazerem compras, o que eu aconselho é sentarem-se, verem que ingredientes têm em casa, esboçar uma lista de refeições que podem fazer esta semana com os ingredientes que têm e comprar só aquilo que vos faz falta.

3. Cozinhar e planear em função da cozinha que temos.

Eu sei que isto parece quase óbvio, mas não é assim tanto. Eu sei que não é porque batalhei com isto durante muitos anos. Se vocês me seguem por aqui há algum tempo, sabem que já passei por várias cozinhas, algumas bastante disfuncionais. Por exemplo, numa delas, tinha que esperar que o forno não incinerasse a comida e na outra ter a placa e o forno ligado ao mesmo tempo era impossível porque o quadro elétrico ia abaixo.
Portanto, planearmos as refeições da cozinha que temos significa que, no dia que temos disponível para cozinhar, não estamos às turras com a nossa cozinha. Seja pré-preparar uma salada, uma dose de sopa maior, aproveitar o forno para cozinhar mais do que uma coisa, e ir alternado estes equipamentos. Planear tendo em conta estas condicionantes, na hora de cozinhar, já não estejamos frustrados com as limitações das nossas cozinhas. 


4. Duplicar as doses.

A minha tábua de salvação é, quase todas as semanas, pelo menos uma vez por semana, saber que no meu congelador existe uma dose de qualquer coisa deliciosa à espera de ser descongelado. 
Se por exemplo eu chegar a casa com 2 quilos de carne picada que comprei em promoção, posso cozinhar uma bela bolonhesa. Aproveito  energia e disponibilidade e cozinho dois quilos, no mesmo tempo que cozinharia apenas meio quilo. Divido tudo em doses equivalentes a uma refeição para a nossa família e congelo-as. 
Pode parecer meio tonto, mas há dias e semanas que são mesmo complicadas e o facto de eu saber que aquela comida está ali à nossa espera, tranquiliza-me muito. Isso significa duplicar doses sempre que possível. Principalmente coisas com molhos e caldos. Por exemplo, uma bolonhesa, uma feijoada, uma carne estufada, um estufado de lentilhas, grão cozinhado com um molho ou um caldo de vegetais, é delicioso e pode muito facilmente ser congelado e depois descongelado no frigorífico tranquilamente durante a noite, sem pressão. Hoje, tenho uma dose de bolonhesa que foi descongelada durante a noite à minha espera. 
Isto vale muito! Sempre que vocês poderem dupliquem doses e congelem. Vai ajudar.
Há algumas coisas que não congelam tão bem, como por exemplo os grelhados ou os salteados que são feitos mais para consumir na hora do que para congelar. Mas podem sempre congelar as sopas, os caldos, os estufados. Há coisas que congelam muito bem e descongelam igualmente bem. Não tenham medo de congelar. Qualquer dúvida que tenham podem sempre fazer uma pesquisa rápida na internet que de certeza que vos aparecerá imensa informação sobre isso. 

5. Aproveitar as promoções.

Eu confesso que mudei de opinião em relação a isto com a ajuda da Joana Roque. A Joana há algum tempo partilhou no Instagram que ia à caça das etiquetas laranjas nos frescos. Isso significa que podemos comprar carne que ainda está em perfeitas condições, mas que precisa de ser consumida ou cozinhada no próprio dia ou no dia a seguir. Ela dizia que fazia isso, não só para poupar dinheiro, como para evitar o desperdício alimentar. Quando ela falou disso fez muito sentido para mim, porque eu nunca tinha pensado em comprar estes itens como forma de evitar o desperdício alimentar. Muitas das vezes, quando vou com mais tempo, o que faço é ir aos frescos que eu sei que vou consumir e que costumo comprar normalmente e assim aproveito então essas promoções. Na realidade, aquilo que estamos a fazer é impedir que estes alimentos, que já se gastou energia para se produzir, já aconteceu toda a cadeia necessária para que a comida chegue ao nosso prato, vão para o lixo. 
Estamos a falar de coisas que eu sei que costumo consumir e que sei qual o seu preço normal e por isso também sei quanto estou a poupar. Muitas vezes, significa poupar 30%. E poupar 30% em coisas de qualidade, vale muito. Ao comprar esta carne, por exemplo 2 quilos de carne de vaca, posso chegar a casa e estufá-la. Isto não significa que a vou consumir toda, mas vou transformar esta quantidade em doses para outras refeições e depois vai para o congelador. 
Comida boa, de grande qualidade e que nos vai durar bastante tempo, que pode ser transformada em várias coisas. 
Eu gosto de muito de bifes de cebolada ou frango cozinhado em cerveja, ou bolonhesa, porque são coisas que podem ser transformadas em várias coisas. Dá para transformar em lasanha, em croquetes, em rissóis, em empadas… tantas coisas deliciosas que se podem fazer com estas bases. 
Por isso, para mim, aproveitar estas promoções é não só forma de poupar dinheiro, mas também evitar desperdício alimentar. 
A questão chave é chegar a casa e cozinhar no próprio dia. Não desperdicem dinheiro ao trazerem estas coisas para casa e deixá-las ficar no frigorífico mais dias, caso contrário, quando forem para consumir, estarão estragadas. Ao comprarem produtos de etiqueta cor-de-laranja é para serem cozinhados no próprio dia ou, o mais tardar, no dia a seguir. 

6. Usar cortes mais modestos de carne e cozinhá-los durante mais tempo.

Esta dica, podem já ter ouvido falar nela, e até já tive algumas pessoas no Instagram que partilharam comigo que a experimentaram e resultou muito bem com elas também. 
Então a dica é ir ao talho, pedir cortes mais modestos e cozinha-los durante mais tempo. 
No primeiro episódio do podcast Marinar falo sobre a dualidade entre tempo e dinheiro e sobre o facto de os cortes de carne mais caros demorarem menos tempo a cozinhar e os cortes de carne mais baratos demorarem mais tempo a cozinhar. Os cortes de carne mais modestos normalmente são partes do animal que são mais musculosas e que precisam de mais tempo fazendo uma cozedura lenta. Podem precisar de uma boa marinada para ficarem com os melhores resultados. Normalmente estes são os cortes mais saborosos, mas precisam de mais tempo. Se não o fizermos, temos carne muito dura e difícil de mastigar.
Um bom exemplo disto é a perna de peru. A maior parte das pessoas compram peito de peru, mas as pernas ficam para trás. A verdade é que a carne da perna é tão ou mais saborosa como a do peito, mas se tentarem fazer um grelhado com ela vão acabar com um bife bastante rijo. Se forem ao talho e pedirem para vos desossarem uma perna de peru, ou até preparem inteira para assar no forno, se for lentamente, ela desfia-se com um garfo. O preço por quilo desta carne é muito mais acessível do que o preço do peito. Um talhante até já me confirmou que o preço da carne do peito de peru é mais elevado para equilibrar o facto da maior parte das pessoas não quererem nem as asas nem as pernas. Faz tudo parte do mesmo animal, é delicioso. Experimentem que vale a pena.

7. Aproveitar todos os excedentes da época para fazer compotas, fermentados e congelar.

Esta dica, para muitos, é um quebra-cabeças. Aproveitar os excedentes da época sob forma de compotas, fermentados e congelados. Por exemplo, se vocês forem ao mercado, especialmente no fim da época de algumas frutas, em que há muita abundância, o preço é muito, muito baixo. 
Por exemplo, mirtilo, couves, framboesas, tomate, são vendidos quase ao desbarato, porque os produtores sabem que quase toda a gente tem e com muita abundância. Por isso precisam de vender e depressa. Esta é uma óptima altura para comprar em quantidades e congelar. 
Cá em casa, os mirtilos que vamos consumindo ao longo do ano são congelados na altura da época deles, em que em vez de custarem 15€/kg custam 7€/kg. Então eu compro 4 quilos de mirtilos, lavo-os e congelo. Dão para ir fazendo batidos de fruta, para pôr nas panquecas, nas papas de aveia, dá para os pôr até congelados por cima. Claro que não ficam com a mesma textura mas, mesmo que não seja o ideal, continuam a beneficiar do seu valor nutricional. 
Outro bom exemplo são os fermentados. São muito fáceis de fazer. Até ter feito um workshop com o Hugo Dunkel da Local, no Porto, para mim os fermentados eram uma dor de cabeça. Nesse workshop estivemos a falar sobre os benéficos dos fermentados e quando chegou à hora de fazê-los ele disse: “É literalmente cortar couve, amassá-la com sal, pô-la num frasco esterilizado, compactá-la muito bem e deixar a fermentar durante 5 dias à temperatura ambiente.” 
Para além dos benefícios que os fermentados têm e dos probióticos, são deliciosos e uma óptima forma de acrescentar sabor de forma especial à nossa comida. Aproveitar estes excedentes da época pode significar fermentar coisas como couves e cenouras, fazer compotas com frutas em excedente e podemos congelar aquelas frutas e legumes que vocês sabem que vão usar sempre.
Se gostavam que falasse mais sobre fermentados, façam-me saber. É algo que tenho bastante interesse e adorava falar convosco se for do vosso interesse. Podem fazê-lo por mensagens no Instagram ou por e-mail.

8. Fazer pão em casa, fazer iogurtes, fazer ricota, etc..

Se tivermos tempo podemos poupar dinheiro na comida, porque há coisas que são pouco dispendiosas de fazer. Fazer pão em casa é tão simples e tão barato. Um quilo de farinha custa entre os 50 e 70 cêntimos e se comprarem meio quilo de pão, onde quer que seja, custa muito mais do que isso. 
Uma óptima forma de poupar dinheiro poderá ser fazer pão em casa. Cá em casa somos grandes fãs de pão. Não imaginam a quantidade de dinheiro que eu poupo todos os meses fazendo pão em casa. Quem diz fazer pão, diz também fazer iogurtes em casa, que é muito simples. É daquelas coisas que as nossas mães e avós faziam quase em piloto automático, porque já estava tão encaixado na rotina delas que era só mais uma coisa. É de facto muito simples de fazer. Queijo ricota é também muito simples de fazer e é bastante caro a comprar. 
Por isso, se vocês tiverem curiosidade e gostassem que eu desenvolvesse mais isto, mandem-me mensagem. São coisas muito simples de fazer. São muito saborosas, menos dispendiosas ao fazer do que ao comprar e valem a pena.

9. Reduzir desperdício alimentar, reinventando sobras.

Eu conheço pessoas que não comem comida aquecida, que não sabem o que fazer com as sobras. Eu compreendo. Estas coisas de aproveitar a comida, reduzir o desperdício, são conceitos bonitos de se dizer, mas isto é  também um músculo que se treina.
A ginástica mental de reinventar as sobras muitas das vezes é o que faz cá em casa com que surjam receitas novas, quase sem contarmos, porque, no fundo é quase como um puzzle. Abrir o frigorífico e ver que sobras há e saber como as podemos conjugar. Para além de ser uma óptima forma de poupar dinheiro e de reduzir o desperdício alimentar também é uma óptima forma de desenvolvermos receitas novas. 
Acredito que haja muitas receitas no mundo que foram desenvolvidas assim, a reinventar as sobras. 
Para quem não sabe o que fazer com o arroz, há determinadas receitas que começam precisamente com arroz frio. Ou seja, em que é preciso cozinhá-lo e pô-lo no frigorifico para depois saltear, por exemplo. Se vocês tentarem saltear um bocado de arroz para fazer um stir fry, se tentarem salteá-lo com um arroz acabado de fazer, ele vai agarrar-se à frigideira. 
Há receitas que começam mesmo com sobras e se vocês tiverem um bifinho de frango que sobrou, um bocadinho de arroz que sobrou, meia couve no frigorífico a precisar de ser consumida, têm meia maçã roída, tudo isto dá para conjugar. Se puserem um pouco de amêndoa picada por cima ou um dente de alho salteado, faz uma refeição nova. 
Comer sobras não significa pô-las no micro-ondas e aquecer. Pode significar reinventar, ou seja, cozinhar de novo, transformar, adicionar textura, tostar… tantas coisas que se podem fazer! Não desperdicem as vossas sobras.


10. Plantar a nossa própria comida.

Esta dica não é para toda a gente. Às vezes e só uma questão de nos organizarmos e vermos como é que podemos fazer: em vasos, em pequenos jardins. Desde que a terra seja boa e que tenha boa exposição solar é possível ter tudo. Quando morávamos num apartamento, já tive uma horta de varanda. Esta varanda dava mais para folhas verdes, ou seja, com a exposição solar que nós tínhamos conseguia ter muito boa rúcula, espinafres, alfaces, ervas aromáticas… Pode não parecer mas isto ajuda muito a poupar dinheiro. Mesmo que não saibam nada sobre o assunto, a agricultura é algo bastante engraçado. É um voltar às nossas origens. É muito gratificante vermos a nossa comida a crescer. É um processo muito giro de se fazer principalmente com miúdos pequenos. Nós vamos vendo com a nossa filha a satisfação que ela tem de ir pondo as sementes na terra e de depois as ver germinar. É um processo em que nós vamos aprendendo mais sobre a nossa comida. Vamos ensinando mais aos nossos filhos também. E claro que para auto-suficiência, em termos alimentares, requer algum trabalho, mas só o facto de “precisava de umas folhas de alface…” e tê-las no vaso, vai poupando algum dinheiro. Além de que comer os alimentos que nós próprios cultivamos tem uma satisfação extra. 

11. Replantar vegetais em vasos ou num pedaço de terra.

Se a dica anterior não for para vocês ou se não tiverem forma de plantarem a vossa própria comida, podem sempre replantar os vegetais que já compraram e pô-los num pedaço de terra ou mesmo em água, num copo ou frasco e eles continuam a crescer. Bons exemplos disso são as cebolinhas tenras e a couve bok choy. Se não tirarem as folhas todas, se deixarem 4 ou 5 das folhas mais pequeninas e puserem a raiz em água, voltam a crescer mais folhas. Tenho, neste momento, duas cabeças de couve a crescerem no parapeito da janela, só com o pé mergulhado em água. As alfaces, se fizerem o mesmo que a couve bok choy, elas vão continuar a crescer também. Se cortarem os topos das cenouras e das beterrabas e as puserem em água elas vão desenvolver folhas novas, que são comestíveis. Investiguem como replantar vegetais que já tenham e é uma óptima forma de não terem que começar com sementes, que demora muito mais tempo. Vocês preparam as condições, os vegetais voltam a crescer e é extraordinário.

12. Escolher ingredientes humildes e transformá-los com especiarias.

Muitas vezes as pessoas vêm falar comigo sobre estarem sempre a comer a mesma coisa, ou de sentirem que estão sempre a comer a mesma coisa. 
Muitas vezes tem que ver com o tipo de temperos que usamos. Uma coisa que aprendi nas viagens que fui fazendo é que a maior parte de nós tem acesso a ingredientes muito semelhantes mas cozinhamos de maneira completamente diferente. Isso, muitas das vezes, está baseado nas especiarias que utilizamos. Se olharem para a cozinha indiana, os ingredientes de base podem ser muito semelhantes aos nossos, mas as especiarias que eles usam transformam completamente a comida. As pessoas que conheço de mais idade, aqui no nosso país, associam as especiarias a “porcarias”. Como se juntar caril, açafrão, ou outras especiarias fizesse mal à saúde. Também é preciso desmanchar um pouco estes preconceitos que nós temos em relação à comida. É possível que uma pequena dose de sementes de coentros moídos, um pouco de caril, paprica fumada, o que quer que seja, transforme completamente a nossa comida. Comida que se calhar até já estamos fartos de comer ou que é aborrecida. Há pessoas que me dizem, por exemplo, que até gostam de comer comida vegetariana, mas que se fartam de comer sempre a mesma coisa. Os ingredientes base podem, de facto, ser os mesmos, mas não precisa de ser a mesma coisa.
Só para terem uma noção, por exemplo, se pegarmos em arroz e frango, que são ingredientes que a maior parte das pessoas tem em casa, podemos tentar tantos caminhos com estes dois ingredientes e mais alguns, que nem parecem a mesma coisa. Um frango temperado com molho de caril, feito com uma bela cebolada, com um pouco de leite de coco e um arroz branco. Só isto transporta-nos imediatamente para uma zona do mundo. 
Podemos pegar num arroz mais gordinho, como o Carolino, e fazer um risoto com frango assado e usar os sucos do frango assado, para incorporar o risoto. Fica delicioso! Com uma salada verde, e já estamos no caminho para outra parte do mundo. Se sobrar, uma óptima forma de usar estas sobras, é fazer aquilo que os italianos chamam de arancini, que são bolas de arroz que levam um pouco de queijo dentro. São passadas por ovo e pão ralado e depois são fritas. Podem começar a refeição com uma sopa e acompanhar os arancini com uma bela salada. E já temos uma outra refeição completamente diferente. 
Podemos ir para Espanha, adicionar outras coisas, e fazer uma paella. Podemos ir para a Ásia, fazer um salteado com arroz, frango e vegetais variados. 
Podemos fazer um arroz de forno a acompanhar o frango assado mesmo ao lado. Podemos fazer um caldo de frango com uns bagos de arroz. 
Há tantas coisas que se podem fazer e muitas das vezes não é só a maneira como cozinhamos estes ingredientes, mas também o tipo de temperos e especiarias que lhes pomos. Se adicionarmos por exemplo, caril, estamos a ir numa direcção. Se pusermos açafrão ou outras especiarias, estamos a ir noutra direcção. 
Uma dica para quem está a fazer dietas vegetarianas ou vegan e tem saudades de alguns temperos específicos da nossa cozinha portuguesa, como o sabor do chouriço, se adicionarem paprica fumada, por exemplo a uma abóbora salteada, vai evocar um pouco estes sabores e aromas, que muitas das vezes são o que fazem a comida. Por vezes, não é tanto ser uma carne deste ou daquele animal, desta ou daquela forma, mas sim os temperos que lhes pomos. 

13. Congelar sempre que desconfiarmos que não vamos consumir logo.

Eu sei que há muita gente que tem receio de congelar coisas ou que usa o congelador só para, por exemplo, guardar ervilhas e uns douradinhos, mas o congelador é nosso amigo.
É nosso amigo no sentido em que faz pausa na degradação da comida, preserva durante bastante mais tempo do que manter na bancada ou deixar no frigorífico. Quando nós sabemos, ou desconfiamos, que não vamos consumir logo aquilo que comprámos, principalmente se fazem doses extra, congelem! Não deixem a comida andar no frigorífico 5 dias para depois a congelar. Congelem logo. 
A maior parte das coisas podem ser congeladas. Uma das coisas que aprendi nos últimos dois anos foi começar a congelar manteiga, coisa que eu não fazia a mínima ideia de que se podia fazer, e até queijo. Quando descongelamos mantem-se exactamente igual ao que estava antes. Eu descongelo no frigorífico, por isso tiro no dia anterior. Dou o exemplo da manteiga porque a que usamos aqui em casa, vem dos Açores, é de pasto e, normalmente, é mais cara. Quando a apanho em promoção compro sempre 4 ou 5 pacotes e congelo. Depois vou tirando à medida que preciso. É uma maneira de poupar e termos sempre o que precisamos connosco. 
Tendo disto isso, na fase que estamos a atravessar, de pandemia, é preciso ter cuidado também com a acumulação de alimentos e ter o cuidada deixar para as outras pessoas. É uma questão de fazerem aquilo que o vosso bom senso ditar. 

14. Reduzir os alimentos pré-processados ou pré-preparados e incluir alimentos inteiros sempre que possível.

Nestas coisas a maneira mais directa de o dizer é, se alguém preparou por vocês estão a pagar mais. Voltamos à dicotomia do quanto mais dinheiro pagamos, menos tempo gastamos e quanto menos dinheiro pagamos, mais tempo precisamos investir. 
Podemos comprar fruta cortada, purés de fruta para as crianças, frango já pré-temperado… há muitas coisas que se podem comprar e são atalhos óptimos para se utilizar, mas se alguém já fez este trabalho, significa que vocês estão a pagar o trabalho dessas pessoas. Não tem mal nenhum. Há oportunidades de tudo na vida, mas se estamos concentrados em poupar, ou seja, não gastar o nosso dinheiro, podemos fazer escolhas que permitam manter mais dinheiro do nosso lado. Já para não falar no facto de que quando estamos a comprar alimentos pré-processados e pré-preparados, normalmente trazem ingredientes que não são aqueles que nós colocaríamos na nossa comida. 
Evitando este tipo de alimentos estão a garantir que estes ingredientes não vão parar ao vosso corpo. 
Com isto não estou a dizer que uma coisa é má e a outra é que é boa. Há alturas para tudo na vida. Se vocês, nesta fase, só conseguem sobreviver com este tipo de produtos, é usar e mais tarde equilibrar.
Na sociedade actual temos muito a tendência de querer classificar tudo como sendo bom ou mau. Eu acho que há lugar para tudo. Há comidas que são menos saudáveis, mas está tudo bem, comemos um dia e depois voltamos à nossa alimentação normal e equilibrada. Temos movimento intencional, mexemo-nos. Acho que não é preciso olharmos tanto para extremos, mas antes tentar ocupar o meio-termo com sabedoria, com calma, com tranquilidade. Compreendemos que temos sempre mais um dia para tentar fazer melhor e que há alturas para tudo. Há-de haver alturas em que nós conseguimos comer como é suposto e deitarmo-nos às horas certas. E vai haver também alturas em que não. Desde que tudo seja equilibrado, as coisas vão.

15. Levar sacos de pano para as compras.

Esta minha última dica é talvez a mais óbvia, e aquela que talvez dê para poupar menos, mas ao fim do ano, tudo junto conta.
Há imensas oportunidades de adquirirem sacos de pano ou de pedirem a alguém para vos fazer, ou mesmo vocês fazerem os vossos próprios sacos.
10 cêntimos aqui. 5 cêntimos ali. 20 cêntimos acolá. No final de um ano, no final de 5 anos, no final de 10 anos… façam as contas.

Por isso, é uma dica simples, para além de reduzirem desperdício, estão também a manter mais algum dinheiro na vossa carteira, que é um dos objectivos desta partilha.

Vamos recapitular para garantir que não se esquecem de nenhum:

  1. Definir um orçamento mensal para alimentação e respeitá-lo;

  2. Planear refeições;

  3. Cozinhar e planear em função da cozinha que temos;

  4. Duplicar as doses;

  5. Aproveitar as promoções;

  6. Usar cortes mais modestos de carne e cozinhá-los durante mais tempo;

  7. Aproveitar todos os excedentes da época para fazer compotas, fermentados e congelar;

  8. Fazer pão em casa, fazer iogurtes, fazer ricota, etc.;

  9. Reduzir desperdício alimentar, reinventando sobras;

  10. Plantar a nossa própria comida;

  11. Replantar vegetais em vasos ou num pedaço de terra;

  12. Escolher ingredientes humildes e transformá-los com especiarias;

  13. Congelar sempre que desconfiarmos que não vamos consumir logo;

  14. Reduzir os alimentos pré-processados ou pré-preparados e incluir alimentos inteiros sempre que possível;

  15. Levar sacos de pano para as compras.

Certamente que há muitas mais dicas que podemos explorar.

Se tiverem alguma dica que seja a vossa favorita, digam-me. Ou se se lembrarem de alguma dica que eu não incluí, mandem-me um e-mail ou uma mensagem no Instagram.

Eu vou adorar saber.


E já sabem, se precisam de uma ajuda mais completa para planear refeições, vão à loja Marinar e lá podem encontrar o PDF. Reuni todo o meu conhecimento, as minhas melhores dicas. Têm grelhas de organização, tabelas de sazonalidade de vegetais e frutas, grelhas de planeamento de refeições durante a semana. Vários passos para vos ajudar a chegar a bom porto. 

E se acham que precisam de apoio personalizado podemos sempre marcar uma sessão de consultoria onde vemos a vossa situação específica, enquanto família, de acordo com as rotinas que têm e avaliamos a vossa situação. Desenvolvemos técnicas de trabalho que vos ajudem a ter comida no frigorífico quando vocês mais precisam dela. Muitas vezes adiamos a solução para os nossos problemas em vez de os enfrentar e decidir de facto que queremos mudar. Se vocês já tentaram várias coisas, se já seguiram várias dicas de vários blogues, e chegam à conclusão que voltam sempre ao mesmo ponto, ao mesmo padrão, então uma sessão de consultoria vai ajudar-vos imenso. Se precisarem, eu estou aqui.

Se isto vos foi útil de alguma forma, partilhem com um amigo ou então partilhem algum amor comigo e deixem-me um comentário ou uma review no Apple Podcasts, ou então aqui no blogue. 

Espero que fiquem bem,

Um abraço e até já.